sexta-feira, 19 de setembro de 2008

O Garoto Que Só Queria Sorvete!

Hello!

Bom, para quem lê, sinto muito ter estado ausente ultimamente, mas tenho estado com a minha mente um pouco fora do ar e por isso resolvi não postar. Fiz até um texto falando sobre isso, mas depois eu o publico e quem sabe aí vocês entendem o que está acontecendo na minha pequena e confusa cabecinha! Nesse momento quero compartilhar com vocês um episódio que me aconteceu essa semana. 

Foi na ultima quarta-feira dia 17 de setembro, e esse dia vai ficar marcado em mim acredito que para o resto de minha vida. Eu estava chamando o meu pessoal para a aula as 15 horas como de costume, mas para minha surpresa um aluno me perguntou : "Teacher, eu tenho um amigo dos EUA que está ficando em casa por uns dias, e eu o trouxe para assistir a aula comigo, tem problema?". Claro que eu lhe disse que não teria problema algum, seria até interessante ter um conosco um real SPEAKER. Sua lingua materna era o inglês, então ele poderia nos ensinar muitas coisas! A experiência de conversar com alguém de outro país seria muito interessante, não só para os alunos, como para mim também. Mas, mal sabia eu o quanto aquele garoto me ensinaria naquele dia. 

Deixo claro aqui que sempre tive uma cabeça aberta, sempre soube das diferenças socias, culturas, étnicas, religiosas e morais das pessoas. Sempre as respeitei. Sempre tive consciência de como elas eram e o que elas acarretavam. Mas, conversar com aquele garoto me fez ver um contraste tão grande entre populações que vivem no mesmo continente. Claro que você vai me dizer: "Jennifer, é logico que as pessoas são diferentes. Somos diferentes até de nossos irmãos e isso que vivemos juntos na mesma casa, imagine pessoas que apenas vivem no mesmo continente, claro que são diferentes!". Tá, até aí eu concordo! Mas, o jeito de se expressar daquele garoto não é semelhante a nenhum outro garoto que eu ja tenha conhecido. Isso que eu já conheci pessoas do interior, pessoas de outros estados, pessoas de outros países, de outros continentes mas nunca cheguei a reparar neles como reparei nesse menino. 

Garoto normal, estatura média, branco, magro, olhos escuros, cabelo alourado(castanho bem clarinho). 14 anos. Nasceu na Georgia. Tímido, esperto, criativo, determinado, e com um caráter fortissimo.  O que ele tinha de diferente? O jeito de ver a vida. Apenas isso!

Ao perguntar-lhe as diferenças existentes entre o seu país e o nosso ele simplesmente respondeu: "Aqui, podemos andar pela rua." Claro que existem lugares super perigosos no Brasil, e lugares super traquilos nos EUA, mas ele disse de uma forma geral. O que me surpreendeu em sua resposta, não foi a resposta em si, mas a sua sinceridade e simplicidade. 

Ao perguntar-lhe a diferença entre seus colegas de classe e aqueles colegas que ele estava tendo por um dia ele disse: "Lá os jovens são MAUS". Perguntei-lhe como assim "MAUS"? Sua resposta foi: "A maioria ou usa drogas ou tem algum problema muito sério em relação a violência. É muito triste ver meus colegas matando a si próprios". Nada de surpreendente nisso não é? Essas coisas também acontecem no Brasil não acontecem? Tá, mas qual é o brasileiro que vai chegar aos EUA e dizer de boca cheia tudo isso, com a cabeça erguida, dizendo que lastima o futuro de sua sociedade. Ou seja, não foi a sua resposta que me impressionou novamente, mas sim a sua SINCERIDADE.

Outra pergunta que lhe fiz foi se qual a principal diferença entre as pessoas que ele havia convivido aqui e as que ele convivia lá. Ele disse meio rindo : "Lá a gente não se abraça como aqui!". Tá, os americanos são pessoas sérias e abraçar é coisa de sentimentais como os brasileiros, pessoas que consideram as outras como irmãos, ou seja é coisa nossa! Mas, ele não disse isso como uma crítica, mas sim com um toque de "inveja" em suas palavras. Pode ter certeza, o que ele mais queria era poder chegar na escola e dar um tipico abraço com um tapinha nas costas em cada um de seus colegas. Com a sua resposta, ele demonstrou mais uma vez sinceridade e admiração por uma cultura diferente da sua. Quantas pessoas fazem isso?

Mas o que mais me deixou estupefata naquele garoto foi ouvir a sua curiosidade sobre o nosso país e a sua reação ao ouvir a resposta. Ele perguntou se os vendedores de sorvete daqui também tocavam uma musiquinha estranha igual lá. Com a sua pergunta ele demonstrou que não se importava com as diferenças culturais, sociais ou raciais das pessoas em nosso país, ele só queria ver se nas pequenas coisas que para ele eram interessantes, a diferença era grande e se essas diferenças ele poderia adaptar em sua personalidade e forma de viver. A minha resposta para aquela pergunta foi "não". Disse que aqui os sorveteiros tinham apenas uma buzina, e não tinham carros grandes como os de lá. Mas disse-lhe que aqui o lixeiro tem uma musiquinha estranha, o vendedor de churros e o vendedor de banana! Ao ouvir isso ele riu como se tivesse 5 anos de idade e alguém lhe estivesse lhe fazendo cocégas. Ele deu gargalhadas sinceras demonstrando a sua inocência. 

Com isso a sala inteira estava rindo e, claro, até eu ri. Nada melhor do que uma risada sem culpa, praticamente sem motivo. Rir por rir. E foi o que fizemos. Rimos até nossas bocas doerem!

Aquele garoto passou em minha vida de uma maneira diferente, ele me fez ver as diferenças de um outro angulo, com uma outra visão. Ele poderia ter sido um vizinho, um alemão, um francês, um indigente, um qualquer. Não me importa, se ele reagisse da mesma forma, me ensinaria as mesmas coisas. Não é porque ele era americano ou porque era um jovem de 14 anos que me fez abrir os olhos. Sou muito grata por tê-lo conhecido. E acredito que ele nem tenha percebido o bem que me fez, afinal, ele foi natural, sincero, humilde e inocente. Coisa que ultimamente tem se visto pouco NO MUNDO.

A questão é a seguinte: aonde foi parar o legado deixado pelos nossos ancestrais de sinceridade, fraternidade, igualdade, respeito e solidariedade? Acredito que eles simplesmente foram esquecidos, deixados para trás, ignorados, abandonados. Afinal, encontrar uma pessoa que demonstra um pouco deles já me deixa maravilhosamente estupefata!

Esse pequeno grande garoto, sem intenção alguma, me ensinou a valorizar as pequenas coisas da minha cultura. Os pequenos eixos da minha história. As coisas que são tão rotineiras que acabam sendo esquecidas. Ele me fez ver que ainda existem pessoas no mundo que só querem ouvir a musiquinha do sorveteiro! :) 

Espero que vocês tenham entendido o que eu quis dizer com essa história! Se não entenderam, discordam ou querem falar/saber mais sobre isso, é só falar! ;)

Beijos aos que lêem. Obrigda pelo apoio!